De autoria de Marisa Gaspar, o novo artigo “The Ambivalent Identitarian: Macanese Metamorphoses in Times of Change” (2021), publicado na Revista de Cultura, examina dois tópicos diferentes relacionados com o conceito de ambivalência e com a sua experiência fenomenológica aplicados ao estudo de caso da comunidade euro-asiática macaense. A primeira parte do artigo aborda, do ponto de vista etnográfico, as práticas de comensalidade de um grupo de amigos íntimos e o conjunto de dinâmicas intersubjetivas de identificação e diferenciação por eles desenvolvidas por ocasião de um jantar de boas vindas. Durante este evento, a condição ambivalente da identidade dos atores sociais envolvidos na ação tornou-se especialmente evidente, apresentando-se como uma estratégia improvisada e positiva na tentativa de adaptação às circunstâncias externas e mutáveis que se vão surgindo ao longo da refeição. A segunda parte do artigo revê a narrativa histórica de Macau enquanto ponto de encontro entre o oriente e o ocidente, que estará na origem da comunidade macaense e caracteriza a sua permanente redefinição identitária, trazendo assim à discussão as dimensões políticas e culturais do projeto de construção e implementação de uma identidade para a Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China (RAEM), hoje com vinte anos de existência. Neste caso, existe uma ambivalência implícita no processo de negociação sino-português sobre a aplicação da lei da nacionalidade da República Popular da China aos residentes nascidos em Macau, em particular aos macaenses etnicamente mestiços, no contexto da transferência da soberania de Macau para a China.