Espaço Lusófono: Instituições, Identidades e Agência

Coordenação

Joana Pereira Leite (CEsA)

Sobre

O ponto de partida do lançamento desta linha de investigação reside na constatação de que existe, na geografia global do dealbar do século XXI, um espaço de língua portuguesa, historicamente construído, presente nas estruturas materiais e imateriais das sociedades que o acolhem e nas consciências individuais dos actores sociais.

Este «Espaço Lusófono», cuja emergência sucede o fim da colonização portuguesa do século XX, viria a ser palco de uma significativa recomposição dos laços que uniam os diversos territórios que constuiam o antigo espaço imperial. Ao retorno e gradual reintegração de cerca de meio milhão de portugueses no contexto da descolonização sucedeu-se a emergência e consolidação de um sistema migratório pós-colonial, inicialmente polarizado pela ex-metrópole (e que inclui uma primeira vaga de imigração do Brasil), mas que registou recentemente, no contexto da actual crise económica portuguesa e europeia, uma complexificação – e por vezes inversão – dos fluxos migratórios (incluindo um afluxo significativo de migrantes portugueses em direcção ao Brasil, Angola e Moçambique); a crescente mobilização cruzada de investimentos directos e participações empresariais entre o Brasil, Portugal e a África lusófona; e um conjunto diversificado de trocas materiais e simbólicas entre os países em questão, reveladoras da multidimensionalidade e multipolaridade dos fluxos que caracterizam o chamado “espaço lusófono”.

Numa fase de significativas mutações nos diversos pólos deste espaço – decorrentes da fulgurante ascensão económica, do Brasil, Angola e Moçambique e das transformações e/ou dilemas mais específicos que caracterizam as trajectórias recentes da Guiné-Bissau, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, assume particular pertinência o desenvolvimento da investigação em torno das trajectórias políticas e socioeconómicas deste espaço, das suas interacções culturais e, em particular, dos seus encontros e desencontros. E isto passa necessariamente por explorar e compreender a construção e reconstrução socioeconómica e identitária no seio do espaço linguístico comum euro-afro-brasileiro.

Assim o que está em causa é a intenção de responder a um desafio maior, que se situa no domínio da análise social, nas suas múltiplas vertentes disciplinares (História, cultura, sociologia, economia e gestão), atenta às dimensões culturais e identitárias, na tradição dos «Postcolonial Studies», cuja focalização se centra na revisão das relações históricas e no mapeamento de novos agentes de articulação geopolíticos e culturais.

Trata-se, não apenas de conhecer os contornos e o conteúdo das «Lusotopias», na diversidade das suas fronteiras, materiais e simbólicas, tal como elas se apresentam na actualidade, como também reflectir sobre o seu potencial interventivo e de valorização no contexto da economia e sociedade globais em mutação. Importa especialmente observar as oportunidades que se abrem ao espaço lusófono no contexto das novas dinâmicas da Ásia e Oceânia: Timor, Macau, China e Índia.

A Linha de investigação Espaço Lusófono acolherá projectos desenvolvidos por todos os grupos do CSG, ainda que numa fase inicial assente fundamentalmente no trabalho de investigadores integrados no grupo Globalização e Desenvolvimento.

O programa a desenvolver no quinquénio 2015-2020 consagra quatro eixos de pesquisa integrando vários projectos:

1 – Lusotopias: Historicidade, dimensões culturais e identitárias. Interrogam-se o atraso da modernização económica em Portugal numa perspectiva de longo prazo (experiência imperial séculos VII e XVIII); As dinâmicas transcontinentais da construção da memória que permitem revelar novas identidades no seio de espaços lusófonos (Portugal, Manaus e Acre), ou em regiões historicamente ligadas à presença portuguesa (Diu); As diferentes dimensões do momento colonial em Moçambique reveladas a partir da memória das vivências individuais; O tema da diáspora Cabo-verdiana que permite aprofundar os processos de constituição societal entre lugares, e reveladora de uma sociedade multi-situada; As políticas culturais, as dinâmicas nacionais e transnacionais das instituições em língua portuguesa ligadas ao cinema, literatura, artes; As construções culturais criadas entre o espaço lusófono, o índico e o atlântico.

2 – O papel do Estados, das instituições e das políticas: Analisam-se as políticas de cooperação para o desenvolvimento; trabalham-se sistemas de avaliação de projetos (Timor -Leste) e indicadores de direitos humanos (Guiné Bissau); Investigam-se modelos de policiamento em vários países lusófonos (Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Brasil), no contexto de programas formação ministrados em Portugal; Questiona-se a política económica e a politização da economia em Moçambique no momento actual.

3 – Dimensão macro dos processos e problemas sociais e económicos:

  • Observação das dinâmicas da mobilidade populacional no seio do espaço lusófono: a diáspora cabo-verdiana, suas experiências e diversidade; as novas migrações portuguesas em Angola e Moçambique; o impacto das migrações em contextos rurais (Cabo Verde e Moçambique); os estudos comparados das migrações portuguesas e africanas no espaço europeu; a pertinência da diplomacia económica associada ao problema das migrações; o problema da transição urbana (no contexto da África central e austral).
  • Investigação em torno dos processos de desenvolvimento durante o período colonial e pós-colonial em Cabo Verde, Angola e Moçambique; pesquisa sobre transformação estrutural e competitividade, desenvolvimento agrário, industrial, bancário, empresarial bem como sobre as relações internacionais, no contexto das oportunidades abertas pelos países emergentes; Pesquisa sobre as relações económicas (fluxos mercadorias, serviços e capitais) entre Portugal a África Lusófona e o Brasil.
  • Analisa-se a relação entre Bem-estar e Desenvolvimento na construção de indicadores para o bem-estar (Bissau, Timor) e para os direitos humanos (Bissau); estuda-se a intervenção da cooperação portuguesa na luta contra a pobreza (São Tomé e Príncipe); trabalha-se na construção de um sistema de avaliação de projectos de desenvolvimento (Timor Leste).

4 – O comportamento dos actores (Empresas, indivíduos, comunidades): Atende-se à intervenção das ONG portuguesas enquanto actores do desenvolvimento em África; Ao papel das “Elites”, aos estilos de vida e aos espaços de diferenciação social em Cabo Verde.

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